Meu Consultor Doutor Salinas

Miro 30.08.2002

Há algum tempo aprendi que quando as decisões se tornam muito difíceis, complicadas, que dá aquele arrepio no pescoço, como se penada alma dissesse:

- Ói! Ai tem coisa...

O melhor que se tem a fazer é beliscar um dedal de prosa com meu Consultor Doutor Salinas.

Ele não é meu parente, nem muito menos de ninguém da minha turma de colégio, nem se fez santo no caminho de Santiago, mas as vezes é cômico como o Chico, não o Anísio, mas o nosso amigo Chico Mé.

Depois que caminho com ele, eu saio contando piada em outras línguas, sou capaz de andar léguas conversando sozinho, e fico dando piruetas nas palavras, com o falar mais suave que locutor do momento espírita.

Ele nasceu numa região produtora das melhores canas de Minas, mas hoje é uma pessoa muito doce, sua conversa desce suave e por mais assertivo que ele seja, jamais tive dor de cabeças por causa de sua autenticidade.

A hora dele não é barata, mas pensando bem também não é das mais caras, pois ele é muito melhor que os velhos Consultores Escoceses adormecidos pelos mesmos 8 anos em berços de carvalho real.

Normalmente uma boa consultoria com ele dura cerca de 3 horas e não se paga mais do que R$200,00 para se ter acesso a um conteúdo tão precioso e preservado, pois embora curtido em 8 anos de bálsamo, não se pode dizer que ele foi, é ou será ultrapassado.

O problema é que é difícil de achá-lo, ainda bem que ele tem alguns hábitos regulares e quem o conhece bem sabe onde encontrá-lo nas quartas quarta-feiras de cada mês, no Instituto que leva seu nome.

Não vou dizer onde é, por que você leitor pode querer se aproveitar da minha ingenuidade e ir a este lugar tornando mais difícil o meu acesso ao precioso tempo do Consultor. Só sei que apesar de não ser santo ele é vizinho de Santa Quitéria.

A última lição dele levei algum tempo para pescar...

No meio de uma confusão danada, uma discussão brava de um assunto polêmico, um arranca rabo daqueles, um bate boca esquisito entre dois amigos, que pareciam pular feito tatus esfaqueados em noite de Lua Cheia, o Doutor Salinas, do alto de sua sabedoria e autoridade, com mineira calma, disse:

-Muito momento nesta calma!

Os dois amigos foram se aquietando, se ajeitando nas suas próprias calças, tirando os pico-picos da cueca e respeitosamente o ouviram em silêncio, beberam de sua sabedoria um gole a mais e voltaram a ser tão amigos quanto antes.

Fiquei olhando a cena e me perguntando:

-Porque ele inverteu a frase? E que efeito rápido sobre os contendores, nenhum vestígio de qualquer remoída cicatriz!

Sou eu um sujeito que aprendi rápido uma lição: o Consultor nunca dá nó sem ponto.

Desde muito cedo em minha vida sempre tive muita calma nos momentos de conflito! Gosto de discutir, mas sem entrar em brigas! Algumas vezes me calo e depois remôo internamente agitado por um longo tempo.

-Porque a frase, ele inverteu?

No meio da noite já o sono batendo a janela dos olhos, voltou a frase invertida com todo seu sábio sentido:

É muito fácil ter calma neste momento, pois é um momento só, o desafio, o difícil na vida é fazer o que ele disse "botar muito momento nesta calma"! Uma hora, um dia, uma semana, até que nada incomode por dentro, e assim se fique, franciscanamente supertranqüilo e ela, a calma, seja completamente natural e contínua, como uma deliciosa cachaça mineira.