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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sex Appeal

Miro 3.9.2010

Tratava-me igual a todo mundo, sorriso fácil, dentes ao vento, cabelos soltos e molhados em movimentos leves e sensuais. De vez em quando cruzava as pernas desleixadamente, deixando aparecer as manchas azuladas em suas cochas, fruto de alguma batida estabanada nos bagunçados móveis de seu apartamento de cobertura. Por outras dava aos olhares passantes masculinos, um breve trailler de seu poder feminino, com imagens breves de suas microcalcinhas, que logo eram cobertas pelos raros panos de suas saias floridas em eterno verão.

O jogo dela não era fácil, fácil era se apaixonar por ela. Não bebia, não fumava, não comia carne, mas tinha um sex appeal que deixava o ar dos cuecas de plantão cheios de testosterona enrustida. Nas histórias de seus ex-namorados, todos haviam recebido bons pontapés nas suas respectivas bundas por algum motivo aparentemente fútil e nunca totalmente por ela revelado. Jamais levou algum fora, a não ser o de um ator assumidamente gay por quem se apaixonou perdidamente por cerca de vinte e quatro minutos.

Havia nela uma expertise mórbida em jogar o conquiste-me se puderes. Ela era perita em deixar os homens babando por ela nos corredores e escrivaninhas do seu trabalho. Nos bares que ia com a irmã, de largo currículo de relações breves e intensas, mostrava-se quase sempre alheia aos interessados passantes. Muitas vezes, dava a impressão de não estar presente, cutucando continuamente suas unhas ou apavorando suas amigas distantes com as notícias da hora, através do twitter acessado de seu super celular.

Nunca decidia nada, ficava sempre com aquela cara de que quase quer, para em seguida torcer o nariz e dizer o que quase sempre dizia: -não sei... mas sabia, sabia que queria manter viva a chama do interessado, a uma distância tal que se sentia aquecida em seu Ego e suficientemente protegida para que o ser por ela encantado não ousasse chegar mais perto. Colecionava admiradores, alguns novos, outros mais velhos como eu, juntava-os como seguidores do seu twitter que bombava direto em mensagens codificadas, que só eram entendidas pelas suas melhores amigas.

Em várias ocasiões, bebi sozinho uma garrafa de cachaça mineira inteira, desrespeitando o célebre código de só sorvê-la dedal a dedal, pois queria esquecer aquela amaldiçoada paixão a qualquer custo!

O que é pior, logo depois, minhas fantasias e paranóias aumentavam e eram sistematicamente produzidas em minha mente poluída de tanto a desejar. Para compensar, curtia a longa fome básica insaciada com vídeos baratos e revistas pornôs, sempre buscando atrizes que tinham algum traço a ver com ela: uma sobrancelha mais densa, uma pinta na testa, cabelos encaracolados molhados, uma tatuagem no pescoço, a voz ou a risada parecida, enfim, qualquer coisa que pudesse lembrá-la naqueles momentos de solidão e desespero animal.

Foram tantas as energias dissipadas em seu louvor, que poderiam cobrir de orvalho branco todos os vidros de suas janelas nas frias madrugadas de minhas intensas e loucas intenções. Eu imaginava que a névoa que impedia a visão da janela de seu quarto, não era por conta da natureza fria da cidade, mas a concretização densa de todas as minhas frustrações masculinas deitadas vesgas ao vento em nome dela.

Ao perceber que minha paixão jamais seria por ela correspondida, procurei uma terapeuta, que por obra do acaso, tinha o mesmo tom de voz que ela, o que me fazia gozar intimamente em cada sessão, afundando a minha fantasia em neuroses, psicoses e paranóias, que podiam ser transferidas para a doutora sem nenhuma preocupação.

Projetei na terapeuta durante três anos seguidos o que senti por aquela indecifrável e distante mulher, até que um dia ao entrar no consultório encontrei ambas conversando, constatei assustado que elas se vestiam sempre do mesmo jeito, não mudavam nunca: eram só frutos de minha poética e esquizofrênica imaginação...

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