Miro, 27 de agosto de 2010.
Fui assistir com amigos o filme Avatar em IMax com óculos de 3D, maiores que os do Elton John na década de 70. Depois de 3 horas e meia, saí do cinema com aquela sensação de que precisava de uns goles de uma boa cachaça mineira, para amolecer minhas partes posteriores, cansadas de tanto tempo na mesma posição planar. Ou seja, carecia fazer algo para desamassar minhas brancas nádegas que pareciam uma enorme aspirina.
Alguns minutos de negociação, a decisão pendeu para uma bodega mexicana, que estava promovendo um festival de pratos típicos com chiles (pimentas) especiais, vindas diretamente do México.
Já na entrada havia um cara magrinho com um chapéu enorme vermelho! Ele parecia um cogumelo desengonçado, que levantaria vôo no próximo sopro de um dos super ventiladores instalados na parede colorida da bodega. Ele nos levou até uma mesa e chamou uma garçonete, que tinha um pouco mais de 1 metro de altura, falava com um sotaque carregado, misturando portunhol com sua língua nativa. Muito prestativo, perguntei de onde ela era... Foi o meu primeiro erro da noite. Empolgada pelo meu interesse, começou a contar a história de seu país e de sua tribo.
-Soy del México, onde todo és mui rico! La língua és rica, la comida és rica, los pueblos são ricos!
Pensei, até os pobres são ricos... E ela continuou:
- Todo és mais esquisito! Viengo 'dunga' tribu vieha. Usted conoces las tribus mexicanas?
-Si. Jô conosco os Aztecas, os Maias e os Toltecas. Respondi em portunhol arrastado, já arrependido de ter feito o incentivo ao intercâmbio cultural recém iniciado.
-Pero hay mutcho mas, Jô viengo de la tribo Chouchoutecas, muy antigua... muy rica e muy antigua...
E assim ela contou-me que a sua tribo era uma das nove que existiam no México pré-colombiano e que eles tinham o costume de sacrificar, no mau sentido da palavra, as donzelas mais bonitas em homenagem aos deuses Chouchoutecas, que retribuíam fazendo chover sobre suas plantações de milho e pimenta.
Após alguns anos de seca, a tribo não tinha muito mais quem sacrificar. Olhei minha garçonete e fiquei imaginando que pelo jeito da estiagem, só tinham restado tribufús, que nem os deuses menos prestigiados aceitariam. Isto se confirmou em seguida, pois ela mesmo contou que as mulheres que ficaram, eram cada vez mais baixinhas, gordinhas, feias e mal humoradas. Eram tão feias, que só em último caso, em noites sem Lua, após as danças regadas com um ancestral da tequila e pimenta é que elas eram visitadas pelos fortes guerreiros em suas ocas Chouchoutecas.
As mulheres restantes Chouchoutecas eram responsáveis pela plantação, cuidado, colheita e aprimoramento da linhagem das pimentas cultivadas na tribo. Elas faziam isto com tanto ódio e inveja das belas virgens, que estavam no gozo eterno no colo dos deuses Chouchoutecas, que a maioria dos brotinhos de pimenta secavam. As que sobravam elas cultivavam com mais raiva ainda e a pimenta foi se aprimorando, cada vez mais ardida, retorcida e forte.
Foi assim que surgiu uma degeneração ácida, mistura das piores pimentas mexicanas: a habanero e a halapeño, que por infeliz coincidência, recebeu um nome indígena que significava “aquela que descende diretamente do terrível Deus Chouchoteca da Sêca”, ou seja a encarnação d’Ele: uma pimenta Avatar! Segundo a garçonete, ela era o principal tempero de tudo, tudo mesmo, que se comia na tribo por séculos...
Não preciso dizer que ato seguinte à história, alguns pratos de comida típica com nachos, tacos, guacamole, todos muy calientes e acompanhados da tal pimenta Avatar foram dispostos à mesa.
Na falta de uma boa cachaça, pedi uma tequila ouro, mas pelo meu atravessado portunhol, acabei diante de um Mescal, com um verme estranho dentro da garrafa, que deixou minha amiga com um certo nojinho da minha bebida e da minha companhia.
A pequena descendente Chouchouteca disse-me que o verme era afrodisíaco. Nas noites sem Lua, ele era colocado pelas mulheres de sua tribo na bebida dos homens junto com a tal pimenta reencarnação dos Deuses... Depois disto eles comiam qualquer coisa que viam pela frente...
Empolgado com o natural viagra que de improviso tinha sido colocado a minha disposição, esqueci completamente a idéia inicial de beber uma cachacinha esperta e tomei de um gole o copinho de Mescal, sentindo na garganta um ardume característico dos destilados mexicanos.
Mais empolgado ainda avancei nos pratos mexicanos... Foi quando a miseravelzinha índia desafiou-me dizendo que aquela pimenta Chouchouteca, brasileiro nenhum jamais tinha comido!
Arranquei duas delas dos seus pequenos dedos e em golpes de aríete fiz meu maxilar e mandíbulas destruí-las em pedacinhos em num piscar de olhos... olhos... que olhos... meu Deus meus olhos?!
Entendi sem piscar os olhos o segundo significado da denominação Avatar. Meus olhos saíram das órbitas, saltaram para fora das pálpebras e começaram ver tudo em 3 Dimensões sem os tais óculos Eltonjhônicos. Segredei aos meus amigos que eu sentia meus olhos como os de uma tanajura sodomizada por um mamute, recém acordado de seus doze mil anos de abstinência sexual em uma geleira siberiana.
-Porque não elefante? Perguntou minha amiga rindo um pouco além do normal.
Quem respondeu foi um amigo meu muito sacana:
-Por que elefante é mais moderno, atualizado, depois da última DR que teve com a formiguinha, eles usam camisinha e KY.
Do meu lado, minha amiga ria, ria, ria muito, muito alto, parecia uma beata tendo orgasmos múltiplos entre jojocas, tosses, puns e gemidos. Toda bodega mexicana parou e ficou nos olhando. Eu estava com aquela sensação de que o condomínio todo ia nos processar por excesso onomatopaico pré-orgástico e que logo o síndico viria tomar satisfação pela algazarra absurda.
Meu estado era caótico, lágrimas em abundância saltaram de meus olhos como chuva de verão, fiquei pensando se era assim que acontecia o milagre da chuva nas terras secas Chouchoutecas.
Coloquei outra dose de Mescal na boca, o ardume não passava, tomei tequila branca, o ardume não passava, experimentei tequila ouro, o ardume continuava. Chupei três limões até que uns noventa minutos e doze doses depois, eu voltei a respirar e ter os olhos de novo no lugar, porém já não era mais dono de meus atos e meu gênero estava em risco de se tornar qualquer um.
Minha amiga, que recém tinha operado os olhos de miopia, para mangar de mim falou que eu tinha descoberto uma nova maneira que os oftalmologistas poderiam tratar bem fundo o fundo dos olhos.
Respondi, mal humorado, que se o oftalmo dela tivesse usado este método, a coceirinha que ela ainda sentia no fundo dos olhos na certa sería por causa do fio do OB desajeitado...
Ainda ouvi sua risada alta mais uma vez, antes de ser levado para casa arrastado. Até hoje o bico do meu tênis sem cadarço não se recuperou dos carinhos grotescos que teve contando e resvalando cada petit-pavé curitibano desde a bodega até minha casa.
Entrei inconsciente em minha cápsula residencial sem controle nenhum sobre meu corpo, segundo testemunhos dos meus amigos, minha cor estava igual á de Tsu'Tey, logo depois que ele soube que sua prometida Neytiri tinha se conectado com mal cheiroso Avatar de Jake: azul de um coma profundo...
Sonhei com Thanators, Viperwolves e Tapirus correndo atrás de mim... Acordei no dia seguinte todo suado, molhado de tanto fugir dos animais de Pandora. A cabeça enorme parecia que eu tinha conservado a cabeça de Avatar em meu corpo subumano, destruído e destilado.
Foi só sentir a primeira pontada no ventre como uma estocada de florete para eu virar um Usain Bolt. Em menos de 9,58 segundos, mais rápido do que a luz, do que o próprio pensamento e sem piscar, cheguei ao trono prometido do meu banheiro, no exato momento em que o guacamole da noite anterior explodia em lavas ao som de trovoadas intrínsecas do meu intestino.
Fiquei lá suando com no calor da obra, achando que eu tinha atirado pedra na cruz, ou desonrado alguma donzela Chouchouteca antes do sacrifício. Passei algum tempo pagando meus pecados por um lugar e de um modo que eu não desejo a ninguém.
Depois que a extravasação do magma de minhas regiões internas mais profundas acalmou-se, joguei um pouco de água no local afetado antes de me aventurar com a rigidez do papel higiênico duplo ultra suave, que me pareceu uma lixa ao primeiro toque mais íntimo.
Após uma rápida e dolorida higienização, enchi-me de coragem e sem sair do trono, peguei na gaveta da pia um espelhinho de tirar pelos da orelha e lentamente levei-o para perscrutar meus países baixos.
Como um mortal que tem sua alma transferida permanentemente para seu Avatar, abri meus olhos amarelados e vi milhares de fichas caírem como seres ancestrais diante da Árvore das Almas. Compreendi pela última vez em toda sua profundidade a razão do nome da Pimenta ser Avatar: como se fosse um rabinho, eu estava com o esfíncter anal todinho para fora completamente azulado!
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