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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Papai Noel Brasileiro

Esta natalínica história aconteceu numa quarta-feira de dezembro de 2003, após terem sido tirado 3 sacis da moita, tombado 2 jipes no meio fio da praça em frente ao boteco de Santa Quitéria e de se espalhar uma notícia quase verídica que um Totóia tinha metido o pau na estrada de Garuva, se transformando no primeiro Pace Car a bater um recorde nacional, tendo chegado a Floripa 2 horas antes que os supers motoqueiros com suas tribais tatuagens e seus colans de couro.

Na falta do Doutor Salinas, tomou conta do lugar um doutor germânico de nome Doctor Stein Eggers, cuja tradução literal vinda do alemão castiço significa Pedra nos Ovos, nos nossos, que relatou-nos este interessante episódio noelesco:

- Aconteceu um alvoroço danado na Lapônia... imaginem Vocês que o Papai Noel aderiu a um Programa de Demissão Incentivado extemporâneo e deixou seu cargo livre 3 semanas antes do Natal.

- Sem saída, o governo laponês abriu um concurso público emergencial, onde além das habilidades tradicionais do bom velhinho, exigia completo sigilo de identidade, posto que este é o maior segredo do mundo ocidental, guardado a 7 chaves desde os tempos de São Nicolau.

Neste momento todos os olhares do bar convergiram para o grande projeto de bigode branco sentado no meio da comprida mesa na parte externa do bar. Lá estava ele, um belo mustache implantado a menos de 1 mês na face rosada do grande Noeleu.

A desconfiança foi geral, mas para não arranhar as exigências de discrição, nem atrapalhar a história, todo mundo se fez de morto e deixou o Stein continuar sua narrativa.

-Contrataram-me para fazer parte da equipe que avaliaria o potencial dos candidatos e o que vou contar aqui não deve ser falado e nem escrito, é como os problemas que acontecem quando se ouve músicas de problema em viagem de pescaria, só se comenta com os que foram e longe dos fofoqueiros.

- Tinha um candidato brasileiro, meio com cara de alemão, chegou lá com um belo e radiante bigode e tinha tudo para ser o primeiro verdadeiro Papai Noel brasileiro. Logo que chegou, causou um impacto danado o seu irradiante bigode branco. Inquirido sobre a origem de resplandecente mustache, respondeu:

-Os bulbos capilares foram selecionados e certificados por uma ISO9000 que garante que não são transgênicos, apesar de virem de Itambiquira. Foram naturalmente implantados de modo a resistir as intempéries do Pólo Norte e das grandes altitudes dos vôos intercontinentais.

Havia uma razão para tamanha preocupação com o bigode, este era um item eliminatório e de alto peso no processo de seleção. O novo Papai Noel seria escolhido pela pujança dos filamentos alvos acima do lábio superior e garantia de pureza de origem.

- Como Você trata seu bigode?

- Com a pomada branca da comadre Emerenciana. Passo pelo lado interno da boca antes de dormir e ao levantar. É uma mistura de gengibre, hortelã e aspersante derivado de um subproduto galináceo, que é um segredo que ela não conta para ninguém, mas jura que é pura.

Aquela era uma oportunidade única e o candidato demonstrava que não a perderia por nada na vida. O escolhido não precisaria passar pelos estágios mais inferiores da corporação indo direto ao posto máximo daquela fria subsidiária da Industria de Sonhos Infantis.

De outro modo, seria um pesadelo adulto ter que passar uns tempos como anão construtor de brinquedos ou, pior ainda, se tivesse que passar pelo cargo B6, ou de tratador de renas, poucas pessoas suportavam lidar com as renas do Papai Noel, pois elas exigem alimentação especial e é o jato de gases flatulentos que as fazem voar rápidas, em velocidades supersônicas pelos céus do planeta.

Com o novo governo da Lapônia havia ainda a possibilidade de mudar de subsidiária e em pouco tempo o eleito poderia acumular outras funções como coelhinho da Páscoa e, se bem sucedido, chegar ao confortável cargo de cegonha branca, um trabalho mais rentável, responsável pela logística de distribuição de bebês ao redor do mundo.

O brilho nos olhos daquele candidato indicava que ele sonhava alto. Não deixou transparecer o trabalho danado que teve para cultivar aquele bigode. A tal pasta da comadre Emerenciana era de efeito homeopático retardado, lento como resposta de petição em comarca do interior. Mas agora o bigode estava ali com aquele branco total de fazer inveja aos lençóis da propaganda dos alvejantes multinacionais.

A entrevista continuou solta. Era preciso que a comissão de assuntos regulatórios de concessão da Lapônia verificassem o atendimento a todos os requisitos “bigodescos” editados na medida provisória que estabeleceu o concurso público em regime de urgência para Papai Noel.

-Você sabe dirigir trenó?

-Aprendi a dirigir numa Rural Wyllis, antes disso guiava muitos carros de boi pelo interior de Minas, não terei dificuldades se elas tiverem tração nas quatro patas.

-Muito bem! Agora me diga: qual a aceleração máxima do trenó?

-Um trenó vai de 0 a 10 em 4 segundos e velocidade cruzeiro de match3, bem mais rápido do que a BM do Tunhinho, ainda mais quando ele diz em alto e bom Portungles “Aimim going” e vai para casa sem trocar a primeira marcha.

-Excelente!

-Ponto pros meninos! Comemorou antevendo a comemoração dos amigos e a possibilidade de colocar alguns deles em postos chaves depois que ele assumisse o poderoso cargo; o Laponepotismo estava liberado desde o tempo da Carochinha.

Nesta altura da entrevista ele já olhava com um certo desdém para os outros candidatos, parecia estar com o gato, o copas e o mole na mão, ninguém poderia ganhar dele, pelo sorriso maroto, podia-se perceber que para ele a "peleia" ia ser uma barbada, ou melhor uma bigodeada.

O exame de saúde foi 10, fez com tranqüilidade o famoso teste de inclusão digital anti problemas prostáticos, tendo sido agraciado com vários elogios por parte do médico:

-Que maravilha! Que maravilha! Que maravilha!

-Por que Você está repetindo Doutor?

-Não estou repetindo... repetindo...repetindo... É o eco... eco...eco...

Em seguida passou para os testes práticos de aptidão. Fez um "-Oôh!Oôh!Oôh! de fazer inveja ao rotundo Papai Noel da HM da Barão do Rio Branco, que no carnaval fazia um bico de Rei Momo na Sociedade dos Operários! É aquele mesmo dos bons tempos da velha Curitiba, tempo em que o macaquinho da Casa Suíça, em cima de uma bicicleta num fio de luz, ficava atravessando a Barão de cá para lá e de lá para cá, enchendo de nhecocumnheco os ouvidos dos transeuntes.

No teste da chaminé, desceu 12 delas como primeiro gole de uma Havaninha, rapidíssimo, nem sujou sua túnica vermelha e também não quebrou nenhum brinquedo.

-Excepcional! Agora o teste driver com o trenó!

Num salto estava à frente do carregado trenó e

-Eia!Oia!Eia!Oia!

E nada das renas saírem do lugar

-Xileft! Istapach! Istrech!

Chicotadas no ar e nada das renas saírem do lugar. Gritos, grunhidos, assovios e nada. Palmadinhas nas ancas volumosas das renas mais próximas e... nada.

Parece que foi a falta de muita calma neste momento que fez com que o teste de seleção começasse a desandar. Paradoxalmente, estava quase fazendo xixi nas calças de tanto esforço e desesperado com tanta inércia renal.

Num ato de fúria incondizente com a personalidade Noelística ameaçou enfiar o cajado rena à dentro. Ao ser interpelado antes do fato chegar aos finalmentes, ainda pode se recompor e responder de pronto dizendo

-Acho que elas estão com os escapes entupidos, chamem o Rotorooter!

Foi quando ele viu um antiguíssimo rádio VHF no cockpit do trenó, não pestanejou:

-Atenção Centro de Operação da Distribuição de Presentes!

-Krishshshsh!

Aos berros

-Atenção CODaPu!

-Krishshshsh!

-Centro na Escuta, prossiga!

-Krishshshsh!

-As renas não andam, câmbio...

-Krishshshsh!

-Sem combustível, as renas não andam, câmbio!

-Krishshshsh!

Desespero total!

-O que elas comem? Bradou entre os dentes num tom que estava mais para Bradoque em cena de flagrante delito do que para a voz meiga e suave de um bom velhinho.

-Krishshshsh!

-Amoras silvestres frescas, colhidas no primeiro orvalho da manhã por noviças virgens dinamarquesas, câmbio.

-Krishshshsh!

-Meu Deus, onde vou encontrar isto? copia

-Krishshshsh!

-O que, amoras? copia

-Krishshshsh!

-Não, as virgens!

-Krishshshsh!

-Na Dinamarca, fica ao Sul da Lapônia.

-Krishshshsh!

-Você acredita que ainda tem virgens na Dinamarca?

-Krishshshsh!

-Claro, respondeu o anão de plantão.

Aí aconteceu o ato falho fatal...

-Só falta agora Você me dizer que ainda acredita em Papai No...

-Krishshshsh!

Mal chegou a completar a frase e o próximo candidato já estava sendo chamado, ouviu com dificuldades a última frase da entrevista:

-Obrigado por ter participado, guardaremos com carinho seu currículo, quem sabe no próximo ano surja uma nova vaga.

E foi assim que aquele brasileiro foi para fita. Deixou escapar pelos dedos a oportunidade única de ser o primeiro verdadeiro Papai Noel brasileiro!

Neste momento, os olhares se voltaram de novo para o centro da mesa, mas ninguém mais viu o reluzente bigode branco, agora escondido num interminável gole de prosa com o doutor Juanito Caminante Rojo...

-Krishshshsh!

-Câmbio final!

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